Frases que dizem muito...

"A forma não é física. A forma é muito mais do que isso. O físico é o menos importante na abrangência da forma desportiva. Sem organização e talento na exploração de um modelo de jogo, as deficiências são explícitas, mas pouco têm a ver com a forma física." (José Mourinho)

quarta-feira, 30 de abril de 2008

CRÓNICA SEMANAL: Seriedade e Honestidade


Esta semana venho falar de seriedade e honestidade, dois conceitos que, por diversas vezes, estão ausentes no nosso país e também no futebol jovem.

Como costumo dizer, treinar jovens poderá ser também um risco e, tanto maior é o risco quanto mais impreparados, os intervenientes no processo estiverem. Assim, é essencial existir seriedade no trabalho que fazemos, temos de nos dedicar ao que fazemos. Uma das razões que me levou a começar a escrever, primeiro no meu blogue, depois em colaboração com outros espaços foi por tudo o que isso implicava. Como gosto de ser sério naquilo que faço, dedico a cada texto que faço algum tempo, seja para pesquisa de literatura da especialidade, conhecer novas realidades, seja para realmente pensar no porquê das diversas situações.

Há textos, livros fantásticos que gosto de ler e que podia utilizar, mas como disse gosto de pensar nas coisas, gosto de ter um espírito critico, não devemos aceitar tudo como verdades absolutas. Assim, não me parece sério nem honesto copiar textos, exercícios, ideias, etc. e utilizá-los como se fossem da nossa autoria, não há fórmulas mágicas, as coisas que consideramos boas podem não estar adaptadas à nossa realidade, por exemplo, a maneira de ser daquele treinador pode não ser a mais adequada para aplicar na minha equipa nem aos jovens com que estou a lidar.

Temos de ser honestos para os miúdos, eles não merecem a nossa falta de seriedade e preparação, não podemos aproveitar o que os outros fazem, algumas vezes com esforço, para parecermos algo que não somos.

Ultimamente também é visível a alteração de postura de diversos treinadores e dirigentes, que agora, constantemente, fazem declarações polémicas. Claro que se os questionarmos eles nos dizem, o Mourinho também é assim e é considerado dos melhores técnicos do Mundo. É verdade, mas essa é a sua maneira, sempre teve essa postura, agora sinceramente muito utilizam essa estratégia para disfarçar a sua falta de competência.

Resumindo vamos todos tentar ser sérios e honestos naquilo que fazemos!
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terça-feira, 29 de abril de 2008

DIÁRIO DE OBSERVADOR: Que medida tomar?

Nesta categoria é habitual falar de problemas, que vou observando nos diversos jogos em que estou presente seja como observador ou treinador.

Esta semana, o problema está repleto de aspectos que importa referir. A dada altura de um jogo de escolas o treinador resolve trocar de avançado, o jogador quando se apercebe que vai ser substituído dirige-se para a linha claramente chateado, até aqui tudo normal, nenhum atleta gosta de sair, mesmo neste escalão onde quem sai pode voltar a entrar, o problema foi a atitude que esse atleta teve quando passou pelo seu colega que entrou para o substituir, o seu companheiro, como é normal, estendeu a mão para o cumprimentar e efectuar a troca enquanto o jogador que ia a sair recusou o cumprimento e ainda reclamou com esse miúdo.

É uma atitude reprovável entre colegas de equipa e entre miúdos, mas ainda houve algo que ainda me custou mais observar.

O Treinador viu aquela atitude e não disse nada ao miúdo, continuou a comandar a sua equipa como se nada fosse, passados poucos minutos a equipa adversária marcou um golo a primeira coisa que o treinador fez foi voltar a chamar o atleta que tinha sido substituído e colocá-lo em campo no lugar do jogador que tinha entrado na sua posição.

Para mim é uma situação onde ocorrer diversos “erros pedagógicos” nem sei qual devo considerar o pior se o treinador deixar que tal aconteça na sua equipa, se fingir que não viu, ou ainda acabar por dar razão a estas situações de conflitos quando voltou a trocar esses jogadores.

Houve uma pessoa, junto ao banco, que reclamou da situação, não sei qual q relação com a equipa, mas imaginando que seja o pai do miúdo que entrou e voltou a sair e, embora considere que o treinador não deve explicar as suas opções tácticas aos pais, neste caso é compreensível um pai pedir justificações.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

DIÁRIO DE TREINADOR: Um jogo complicado


Esta semana objectivo era continuar a conciliar as boas exibições com os bons resultados. Seguindo a minha metodologia de treino, mais uma vez toda a semana foi dedicada a melhorar a nossa forma de jogar, ao nosso modelo de jogo.

O jogo desta semana estava marcado para as 11 Horas da manhã e assim que chegámos ao campo do adversário identifiquei logo a nossa primeira dificuldade, o calor intenso que se verificava.

O jogo começou e desde cedo os miúdos controlaram o jogo, embora a nossa organização ofensiva não estivesse a dar os resultados pretendidos, a falta de dinâmica e velocidade estava a impedir que a equipa criasse o número de oportunidades de golo que tem conseguido nos últimos jogos. Já ao nível da organização defensiva a equipa esteve muito bem impedindo a equipa adversário de se chegar perto da nossa baliza. Assim, a primeira parte acabou com o resultado de 0-0 tendo o guarda-redes adversário efectuado duas boas defesas impedindo a minha equipa de ir para os balneários em vantagem.

No intervalo, tive a preocupação de refrescar os atletas enquanto referia que apenas precisávamos de aumentar um pouco o ritmo para conseguir vencer este jogo. Tive uma conversa em particular com dois jogadores, onde lhes transmiti que iriam começar a segunda parte no banco para assim conseguir lançá-los na segunda parte mais frescos na tentativa de resolver definitivamente o jogo.

A segunda parte começou da mesma forma. Um jogo com pouca velocidade mas sempre com o controlo da minha equipa. Por volta dos 10 minutos lancei os dois miúdos com quem tinha conversado e a estratégia resultou, entraram com mais velocidade que os restantes jogadores e assim o domínio do sector intermédio foi total criando a equipa mais oportunidades de golo. Aos 15 minutos, através de um passe extraordinário do defesa central, o avançado fica isolado na frente do guarda-redes e, após olhar para a baliza e observar de que lado se encontrava o guarda-redes rematou cruzado inaugurando o marcador. Este miúdo está a evoluir de uma forma fantástica é de 1999 e nos últimos jogos tem sido uma peça muito importante no nosso processo ofensivo.

O jogo chegou ao fim com o resultado de 1-0, um resultado curto para o que se passou, embora o adversário tenha estado muito bem conseguindo impedir a minha equipa de chegar à vantagem mais cedo. Foi um resultado importante num jogo muito complicado.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

FUTEBOL JOVEM E O MUNDO: Queens Park Rangers


Hoje irei falar do Queens Park Rangers e do homem responsável pelo desenvolvimento do futebol jovem Joe Gallen.

No clube inglês Gallen começou na categoria de sub-9, depois sub-11 até subir aos sub-17. Neste momento para além de ser treinador dos sub-18 é o responsável por todo o programa do futebol jovem do clube, isto é, desde os sub-7 até aos sub-19. Um programa que o técnico considera ser de longo prazo, isto é, não é algo que esteja concluído amanhã.

A semana de Gallen começa com uma reunião com o responsável pela prospecção para discutirem os jogadores que despertaram o interesse dos observadores nessa semana “Tudo o que estou interessado em saber é, quem eles viram, conseguimos ficar com eles e como conseguimos, podem ter 8, 12, 14 não interessa”. De seguida veste o papel de treinador durante o resto da manha até à hora de almoço. Nessa altura pega no telefone para efectuar os contactos necessários para trazer os jovens referenciados. À tarde volta aos treinos. Apenas o fim-de-semana tem uma rotina diferente, sábado de manha tem o seu jogo com a equipa de sub-18, à tarde desempenha as funções de observador caso pense ser necessário, já o domingo é dedicado a ver os jogos das equipas jovens do clube de modo a acompanhar o seu desenvolvimento. Outro aspecto que gostaria de salientar é a visita que Gallen faz às quintas-feiras, com o seu colaborador Jonh O´Brien, a alguns centros de estágio.

Joe Gallen tem algumas ideias que me parecem importantes de referir neste artigo, o técnico diz que não conhece um treinador que consiga transformar um mau jogador num bom jogador “Não me interpretem mal, não temos de treinar e melhorar os atletas, mas nós temos de ter a qualidade certa no inicio”

Outra ideia que quero referir é a de o treinador dizer que não querem contratar jogadores pequenos, sabe que é uma ideia polémica mas assume que “Se alguém sente que isso não é importante no jogo está a cometer um erro, não me interpretem mal haverá sempre espaço para fantásticos jogadores que sejam pequenos mas, regra geral, nós precisamos presença física e é preciso velocidade para ter sucesso”.

Não concordo muito com estas últimas ideias do treinador inglês, penso que, embora a qualidade inicial seja importante, acho que podemos tornar um mau jogador em bom jogador ao nível cognitivo, isto é, compreensão do jogo. Também penso que o factor físico não é assim tão fundamental, talvez o seja um pouco mais no futebol inglês.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

CRÓNICA SEMANAL: Lei de transferências


Hoje venho falar da lei que em vigor nesta época de 2007/2008, relacionada com as transferências de jogadores menores de 14 e que veio alterar, de forma substancial, a postura dos dirigentes desportivos.

Esta lei poderá ter duas leituras diferentes, a de um clube “grande”, claramente beneficiados (quem será que fez esta lei?) e a visão dos clubes “pequenos”.

Com esta nova lei, os chamados clubes grandes conseguem, facilmente, adquirir os jogadores dos clubes pequenos sem que haja lugar a qualquer indemnização, basta o acordo com o encarregado de educação. Assim, os clubes formadores, deixam de receber a verba a que tinham direito, anteriormente, pela formação do atleta. Será então esta nova lei justa?

Os clubes grandes e as pessoas que concretizaram esta lei defendem-se, dizendo que numa futura transferência os clubes que os formaram têm sempre direito a uma percentagem e assim serão compensados, dando o exemplo do Real Massamá e a verba que recebeu com o Nani na transferência para Manchester. Ora todos nós sabemos que grande parte dos jogadores que chegam aos juniores dos grandes não conseguem sequer chegar às equipas principais, assim, a hipótese de os primeiros clubes responsáveis pela formação dos atletas receberem alguma compensação é muito reduzida. Será que assim é viável continuar a investir na formação?

Eu sou da opinião que sim embora entenda que cada vez se torna mais difícil para os clubes pequenos, muitos deles vivem dessas verbas que recebem pelas transferências dos seus jovens, lembro-me do caso do núcleo de Sintra e da verba importante que recebeu com a transferência do atleta Estrela para o SL Benfica. Clubes destes têm uma grande importância a nível social e assim muitos deles correm o risco de acabar, deixando muitos jovens sem a possibilidade de praticar desporto.

Claro que se um dirigente de um clube grande vier falar desta mesma lei vai dizer que é a mais correcta, que assim os clubes pequenos já não dificultar a transferência dos seus atletas para uma realidade melhor e pedir verbas elevadas. Se esta lei é assim tão boa porque se fazem pactos de não agressão entre os clubes grandes para não se tentar contratar jogadores aos rivais?

Concluindo esta lei, na minha opinião, reflecte a realidade do nosso país, os grandes cada vez mais grandes e os pequenos cada vez mais pequenos...
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terça-feira, 22 de abril de 2008

DIÁRIO DE OBSERVADOR: Pedagogia


Esta semana vou aproveitar uma situação particular para falar do papel dos árbitros no futebol jovem.

Chegado ao intervalo de jogo que estava a observar, vejo o arbitro dirigir-se ao treinador de uma das equipas, achei estranho pois estava a ser um jogo muito correcto de ambas as equipas, assim, prestei atenção ao que foi dito: “Senhor treinador, o seu avançado já entrou várias vezes em carrinhos e em duas ocasiões atingiu os adversários, se possível converse com o jogador para ter atenção a essa situação”. O treinador prontamente agradeceu a indicação e prometeu ter uma conversa com esse jogador no balneário.

Ora parece-me ser esta a postura correcta que deve ter um árbitro num jogo de atletas tão jovens como era neste caso, apenas penso que também poderia ter tido uma conversa com o jogador aquando da ocorrência dessas situações.

Ainda há pouco tempo, Rui Mâncio, coordenador das selecções de futebol da Madeira, apresentou uma proposta de inserir um cartão azul, a ideia seria “promover a formação, com qualidade, num espaço que pretende ser pedagógico”.

Concordo com esta ideia de ser um espaço pedagógico mas, quantos dos intervenientes num jogo de futebol estão preparados a esse nível?
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Neste espaço estou constantemente a relatar atitudes reprováveis que vou assistindo por esses campos, desta vez observei uma atitude positiva mas infelizmente nem sempre é assim. Por esta razão, entre muitas outras, considero que os treinadores que vêm das faculdades de desporto estão mais capacitados para o treino de jovens. Na maioria dos cursos existem as cadeiras de pedagogia e psicologia do desporto. Nos cursos da associação, seja de treinadores seja de árbitros dão a devida importância a estes aspectos?

segunda-feira, 21 de abril de 2008

DIÁRIO DE TREINADOR: Pequenos grandes jogadores


Depois de na semana passada os miúdos efectuarem um excelente exibição, esta semana procurávamos manter este nível, ou melhor como treinador espero sempre melhorar. A semana foi marcada pelo mau tempo que dificultou o decorrer normal dos treinos.

Quem tem acompanhado os últimos textos desta categoria sabe que vou variando os sistemas tácticos sempre de acordo com o meu modelo de jogo. Esta semana voltei ao mais habitual, isto porque queria confirmar se os miúdos tinham melhorado num aspecto importante da minha forma de jogar e que é mais potencializado num dos sistemas.

A equipa adversária vinha de dois resultados positivos por isso, aguardava o jogo com alguma expectativa. A equipa que defrontei esta semana destacava-se pelo nível físico, ou melhor, comparando com a minha equipa onde os miúdos são muito pequenos, a diferença era bem visível.

O jogo iniciou com o domínio da minha equipa e aos 5 minutos surge o primeiro golo naturalmente, uma jogada bonita finalizada de forma inteligente pelo jogador mais pequeno em campo, o meu avançado de 1999. Aos 15 surge o segundo numa grande jogada individual, fiquei extremamente contente, este miúdo merecia, é claramente o que mais tem evoluído. A primeira parte terminou com o resultado de 2-0.

Ao intervalo alertei os meus jogadores que tínhamos de continuar a jogar bem e que queria ver mais vezes os “processos ofensivos” que temos trabalhado.

Foi o que aconteceu, logo no inicio da segunda parte a equipa consegue o terceiro golo num movimento típico do nosso modelo de jogo, estes são os golos que mais me deixam satisfeito. Na jogada seguinte, num lance infeliz do meu guarda-redes, a equipa adversária reduz. Os miúdos continuaram à procura de mais golos e em pouco tempo, numa jogada idêntica à do golo anterior, fazemos o 4-1, incrível como estava tudo a sair de forma simples, realmente o outro sistema potencializou este movimento. Ainda marcamos mais dois golos de jogadas muito bonitas e a equipa adversária também marcou mais um golo da mesma forma, isto é, o meu guarda-redes teve um dia muito infeliz. Assim, tive de ter especial atenção com este miúdo de forma a motivá-lo.

Fizemos mais uma grande exibição, os últimos dois jogos foram excelentes, estou muito satisfeito com o trabalho realizado. Estes miúdos estão a ficar uns pequenos grandes jogadores.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

CRÓNICA SEMANAL: Os empresários


Esta semana vou falar dos empresários de futebol e de estratégias usadas para valorizar os seus jogadores.

Este assunto surgiu devido a um email que recebi de um empresário a dizer que o seu jogador tinha despertado o interesse de um clube espanhol, SL Benfica e Sporting CP. Claro que o empresário enviou o email na esperança que eu publicasse a noticia e assim o seu jogador poderia despertar interesse dos clubes. É uma estratégia que produz os seus frutos, temos o caso recente do jovem Hélio Vaz que foi treinar ao Bolton e logo começou a aparecer em todos os jornais acabando para ir para o SL Benfica, embora eu saiba que o clube da Lisboa já o andava a seguir antes de ele ir a Inglaterra. Também recentemente um jovem do Trofense foi treinar ao Milan aposto que os clubes grandes começaram a olhar para ele de forma diferente.

Já assisti a empresários que foram importantes no lançamento de muitos jovens, não estou aqui a dizer que sou contra a existência deles, mas também tenho assistido a alguns jogadores a serem prejudicados e muito por empresários que muito prometiam e depois nada fizeram, outros que prejudicam outros atletas porque os seus jogadores têm de jogar para no futuro serem transferidos e receberem a devida comissão.

Uma dia assisti a um jogo de juvenis entre dois clubes que apostam na formação, o clube da casa começou a perder e os adeptos começaram a protestar contra o treinador, uma dessas pessoas dirigiu-se ao treinador dizendo "mister explique-me lá como é que este jovem fica no banco" a resposta do mister foi "Sabes temos aí uns brasileiros que têm que jogar para ser vendidos mas, para o ano, este rapaz é titular indiscutível!"

Qual será a motivação desse jovem cheio de potencial que vê interesses externos “estragar” a sua carreira? Infelizmente esta é uma situação que acontece cada vez mais pelos nossos campos, incluindo em clubes grandes, cada vez mais cheios de estrangeiros...

Crónica disponivel em: http://mestresdofutebol.blogspot.com/

terça-feira, 15 de abril de 2008

DIÁRIO DE OBSERVADOR: Miyagawa brilha no At. Madrid

As vezes a realidade supera a ficção e no caso de Rui Miyagawa, tudo começou a 16 de Dezembro de 2006 quando tinha apenas 9 anos.

Este pequeno japonês louco por futebol viu pela televisão a final do Mundial de clubes entre Barcelona e Internacional e, apesar da derrota da equipa de Rijkaard, Rui não pensou duas vezes e disse aos seus pais: “Quero ser futebolista e para isso devo aprender em Espanha, ali formam-se os melhores”.

Foi assim que começou a sua aventura. A muitos pode soar a história. Quem não conhece a série onde entrava o Tsubasa? Oliver, também era um miúdo louco por futebol que perseguia, durante vários episódios o seu grande sonha de ser jogador profissional. A diferença é que em vez de Espanha, Oliver queria viajar para o Brasil.

A Internet proporcionou o primeiro passo do protagonista desta história. Rui procurou escolas de futebol em Espanha e apareceu a que é dirigida por Milinko Pantic relacionada com a escola do Atlético de Madrid. A família do jovem não pensou mais e enviou-o a Espanha, num mês ele demonstrou que estava disposto a tudo para conseguir alcançar o seu sonho. As informações recolhidas pelos responsáveis foram muito boas e, assim, recebeu a proposta de entrar e fazer parte de uma das equipas do clube. Então chegou a parte mais dura. Rui e a sua família decidiram tentar. O jovem deixou a equipa do seu bairro, o seu pai e o irmão mais velho para ir para Espanha. Nem o idioma foi um obstáculo. Desde essa altura que a sua mãe vive com ele e os poucos ambos vão progredindo no castelhano embora ainda não falem fluentemente.

Não foi apenas ele que teve de fazer esforços, David González, o seu treinador, aprendeu palavras básicas em japonês para orientar o jovem no inicio. Os seus companheiros mais próximos, estão a fazer todos os possíveis para que a integração seja a melhor e rápida. Embora recorde Hidetoshi Nakata, o seu ídolo é Kun Agüero que já conheceu.

FUTEBOL JOVEM E O MUNDO: FC Utrecht


Estou de volta a esta crónica que tanto gozo me dá. Tenho andado com mais trabalho na faculdade e, assim, este trabalho de pesquisa teve de ficar um pouco de parte.

Hoje vou até à Holanda, país que aposta forte no futebol de formação, para falar do FC Utrecht e do seu treinador Michael Horddijk, responsável pelo treino técnico e que tem de lidar com diferentes tipos de jogadores.

Em primeiro todas as equipas têm um grupo de jogadores que não dão muita atenção à vertente técnica do futebol, muitas das vezes destacam-se pela vertente física, fortes e combativos, o típico médio defensivo que está em campo para recuperar bolas mas que muitas vezes voltam logo a perdê-la devido às suas deficiências técnicas. Assim é de extrema importância continuar a estimular e motivar estes jogadores para o treino técnico pois como sentem dificuldades muitas vezes desistem. Como diz o técnico, “estes jogadores nunca serão um Ronaldinho, mas isso também não é necessário, porque nós também precisamos de Makeleles”.

Numa segunda categoria temos os dribladores, os jogadores que conseguem fazer as coisas mais incríveis com a bola mas em jogo, na maioria das vezes, as suas acções não trazem vantagens à equipa e, tanto os colegas como eles próprios sentem-se frustrados. Michael refere "Há pessoas que acreditam que nós devemos deixar estes jogadores driblarem e ter a bola, assim, eles irão continuar a desenvolver as suas capacidades técnicas. Eu apenas concordo em parte com isso, eu penso que devemos permitir os jogadores fazer as suas coisas até aos sub-11, mas depois disso eles, gradualmente, devem aprender outras qualidades".

Uma das formas de limitar este contacto com a bola é através do número de toques permitidos. Michael Horddijk discorda desta forma de actuar “Não sou um grande apoiante, assim, estamos a tirar a alegria do jogo e estamos a proibir as coisas onde eles são bons. Uma solução mais funcional é dizer a esse jogador que não pode passar por mais que um jogador a cada posse de bola. Dessa forma ele continua a fazer as suas coisas.”

Michael é da opinião que “ter um treinador de técnica não é supérfluo nem luxuoso. Com certeza que nem todos os clubes conseguem ter um treinador destes, mas esta é uma questão de criatividade. Quase todos os clubes têm um jogador ou treinador que é “tecnicamente inteligente” e pode trabalhar com os jovens jogadores. Eu conheço alguns jogadores sub-19 que treinam os miúdos nos seus clubes.”

Com um treinador específico podemos criar a possibilidade de trabalhar de pequenos grupos. Podem separar metade da equipa para treinar a vertente técnica enquanto a outra metade treina com o treinador da equipa situações posicionais e de manutenção da posse de bola. Desta forma é garantida atenção individual para os jogadores que podem treinar de forma muito específica.

Confesso que não tenho uma opinião forte sobre este treino técnico de forma isolada. Posso apenas dizer que por exemplo na minha equipa prefiro trabalhar utilizando sempre a minha forma de jogar, isto é, não irei perder um treino, ou parte dele, para trabalhar exclusivamente a vertente técnica. Isto não quer dizer que sou contra este treino como um complemento, por exemplo eu peço aos meus miúdos para verem vídeos na internet e escolher uma finta ou drible para treinar e antes de começar o treino me mostrarem o que sabem. É uma forma de trabalhar a técnica sem deixar de treinar da forma que penso ser a mais indicada.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

DIÁRIO DE OBSERVADOR: Mais uma atitude revoltante


Esta semana estive presente em mais um torneio e, novamente, assisti a uma atitude que me deixa revoltado.

Durante um jogo um miúdo, ao tentar chutar uma bola para o ataque, acerta num adversário, lance casual e de infelicidade, naturalmente, tratando-se de miúdos, o que levou com a bola começou a chorar. O que fez o seu treinador? “Levanta-te, agora não é tempo para chorar, choras no fim do jogo”.

Quem é que põe uma pessoa destas a trabalhar com jovens? Será que um jogo num torneio é assim tão importante, será que os resultados têm assim tanto valor que se comprometa a formação dos miúdos?

Na minha opinião o principal investimento que se deve fazer num clube, numa escola de futebol é nos recursos humanos, temos de tentar ter no nosso clube as pessoas mais competentes e capacitadas, não se pode permitir que atitudes destas continuem.

Outro aspecto que o clube tem de perceber é que a atitude deste treinador para com o miúdo é visto como um cartão-de-visita. Eu aposto que nenhum pai, dos que presenciaram esta cena colocaria o seu filho naquela escola...

DIÁRIO DE TREINADOR: Bela exibição

Até agora nesta segunda fase tinha um empate e uma derrota, esta semana só um resultado era possível a vitória. Era uma deslocação longa e tinha três miúdos indisponíveis, mas a confiança é sempre máxima, tenho um grupo muito bom.

O jogo, felizmente, estava marcado para as 11horas, assim não foi necessário os miúdos acordarem muito cedo.

Hoje iniciei o jogo num sistema táctico menos utilizado, importa aqui referir que dentro do modelo de jogo que tenho para a minha equipa experimento diferentes sistemas tácticos, parece-me de extrema importância nesta idade os miúdos vivenciarem diferentes situações. Na segunda parte ficou acordado que iríamos trocar.

A minha equipa dominou o jogo desde o inicio, embora o primeiro golo tenha demorado a aparecer. O treinador desta equipa deixava sempre 2 atletas na frente enquanto os restantes tinham ordens para “bater” para a frente, ora estamos a falar de escolas e, devido as dimensões do campo era complicado para os miúdos, qual a estratégia do clube? Ter bolas muito más, praticamente balões para ser mais fácil colocá-la na frente.

O intervalo chegou com o resultado de 1-0. Resultado muito curto para todo o domínio verificado.

Na segunda parte, logo no primeiro lance, a equipa adversária faz o primeiro remate à baliza e o resultado? Golo!

Esse golo parece que despertou a minha equipa e a partir daí jogaram de uma forma muito concentrada, tendo mesmo momentos de futebol muito bonito. Os golos começaram a aparecer e os miúdos cada vez a jogarem melhor. Acabei mesmo satisfeito com a exibição. O resultado final foi de 5-1 mas mais uma vez penso que é muito curto.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

CRÓNICA SEMANAL: Critério de selecção


Esta semana aproveito para falar dos C’s que dominam o nosso futebol. A Competência e a Cunha.

Numa altura em que se fala em reestruturações em alguns clubes surgem nomes atrás de nomes, muitas das vezes dizem “pode estar a caminho pelas boas relações que tem com...”. Pois é, em Portugal a amizade é um factor de selecção, ou seja, muitas pessoas entram pelas cunhas. Depois corremos o risco de ter no clube pessoas que não mostram as mínimas competências para os cargos que ocupam.

Eu se tivesse o poder de seleccionar colaboradores, apenas olhava para um aspecto, competência. Não é suficiente, conseguir seleccionar os melhores jogadores, não se podem esquecer que é preciso ter também os melhores treinadores, os melhores médicos, fisiologistas, coordenadores, etc. Depois podemos correr o risco de se dispensar o melhor marcador do campeonato nacional porque tem apenas 1,73! Razão? Não encaixa no perfil de avançado do clube, querem avançados altos. Ora eu prefiro avançados que marquem golos.

Numa conversa com um amigo ligado ao futebol jovem, falávamos dos nossos sonhos, o meu de coordenar a formação de um clube, tendo sempre o treino presente, o do meu colega era formar um clube onde juntasse todos os jogadores dispensados dos clubes grandes. Eu aposto que se neste clube tivéssemos também as pessoas que mostram competências e não são seleccionadas para os grandes porque não têm cunhas, mais cedo ou mais tarde eram campeões.

Os amantes de futebol jovem, com certeza, conhecem o técnico Horst Wein. Este técnico, alemão, esteve em Espanha e juntou num clube atletas que não foram seleccionados nos treinos de captação do Barcelona, Real Madrid etc. Apenas precisou de 3 épocas para ser campeão...
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segunda-feira, 7 de abril de 2008

DIÁRIO DE TREINADOR: Um jogo para esquecer

Pela primeira vez esta época, acabei o jogo chateado devido a vários aspectos.

O meu último treino da semana é à quinta-feira, nesse dia passo pelo plano semanal que o clube faz para saber a que horas é o jogo no sábado. Esta semana estava assinalado às 10Horas, assim, marquei o encontro, jogávamos em casas, às 9Horas.

Ás nove, já com todos os atletas no campo, fomos buscar todo o material necessário, bolas, equipamento, águas, etc. Entrámos no balneário era 9:15. Quando vou para iniciar a palestra batem à porta do balneário, era o treinador da equipa contrária que tinha na mão o calendário da associação e que me disse “mister, a hora do jogou mudou? É que eu tenho marcado as 9:30”. Confinado que era mesmo as 9:30, mandei os meus miúdos vestirem-se rapidamente, e apenas disse quem iria começar o jogo. Tivemos de aquecer em 5minutos.

O jogo iniciou sem que eu tivesse um único pai a ver o jogo, sem ter o fisioterapeuta no banco, tudo porque estavam a contar com o jogo para as 10Horas.

No primeiro minuto um jogador adversário toca com a mão na bola, penalty que o arbitro assinala e que a minha equipa falhei, claramente por falta de concentração. É este o aspecto que influenciou todo o encontro, a concentração. A minha equipa, que toda a gente considera que tem uma boa organização ofensiva, hoje esteve completamente a dormir, foram erros atrás de erros. Ainda marquei primeiro, mas aos 10 e 12 minutos levei dois golos e fomos para o intervalo a perder.

Ao intervalo tentei ter a conversa que devia ter tido no inicio do jogo, tentei acordá-los, motivá-los.

A segunda parte continuou igual, alguns erros defensivos que levaram a que a equipa adversária marcasse mais um golo. De referir que na segunda parte chegaram os pais dos miúdos, o fisioterapeuta, que teve de ficar do lado de fora porque não foi colocado na altura na ficha de jogo. Os pais começaram a puxar pelos miúdos e, nos últimos 5 minutos tudo mudou, não saímos do meio campo adversário nesse tempo, tivemos 4 ou 5 oportunidades de golo, mas a bola não quis entrar, chegou a andar em cima da linha de golo.

O encontro terminou com o resultado final de 1-3 para a equipa adversária. Na minha opinião foi o pior jogo que a minha equipa fez esta época. Saí chateado, com o clube por ter colocado a hora errada no plano semanal, comigo por não ter confirmado no calendário da associação, com os miúdos porque sabem muito mais do que demonstraram no jogo. Resumindo foi um jogo para esquecer.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

CRÓNICA SEMANAL: Não há fórmulas mágicas


Há uns dias falava com um colega sobre o meu blogue e sobre as categorias presentes nesse espaço. A certa altura, fui questionado porque não fazia uma categoria sobre exercícios de treino que eu utilizo. Ora isto fez-me estar aqui hoje a escrever, sendo que não está exclusivamente relacionado com o futebol jovem.

Um exercício que feito por mim pode ser o melhor para trabalhar o que pretendo, com outra pessoa pode ter resultados nulos, pois com toda a certeza que a sua abordagem vai ser diferente.

Tive um professor que uma vez me disse que uma boa maneira de “avaliar” um treinador era através da análise de um exercício que todos nós enquanto treinadores fazemos, a rabia. A cada dia que passa, a cada jogo que observo, a cada plano de treino que analiso, cada vez mais concordo com as suas palavras. Este exercício pode ser o melhor do mundo, mas também pode ser apenas para preencher o tempo da sessão de treino sem ir ao encontro do objectivo.

Marcello Lippi, refere que os treinadores nunca devem parar de aprender e que devem usar os conhecimentos adquiridos para desenvolverem a sua personalidade e visão do jogo. “Temos de sentir a necessidade de alargar os nossos horizontes e aprender mais, porque é disso que necessitamos quando somos chamados a resolver problemas. Um treinador não pode dirigir apenas por ler livros. Eu próprio criei as minhas sessões de treino. Os livros dão-nos os conceitos, mas o resto deriva da experiência. O mais crucial é a gestão dos recursos humanos ao nosso dispor. É importante ter uma personalidade forte e tentar impô-la, sem, no entanto, criar medos nas outras pessoas”.

Já Mourinho, nas suas crónicas na revista record dez, disse, "Carlos Carvalhal esteve aqui dez dias e a forma como me abordou foi diferente - 'Zé, gostava de conversar contigo, gostava de ver o Chelsea sem te chatear e roubar o teu tempo. Ou ao pequeno-almoço, ou ao almoço, ou depois do treino, só quero conversar contigo'. Sem caderno e caneta na mão, sem procurar receitas, sem tentar levar para casa exercícios milagrosos, esteve cá, viu, ouviu, perguntou, respondeu, conheceu. Está num nível superior de conhecimento, interessa-se por liderança, pelas relações emocionais com os jogadores, pela definição de características de 'feedbacks', pela intervenção táctica durante o jogo... Eu já julgava, mas agora estou certo - nesta profissão está num nível superior."

Isto tudo para dizer que não há fórmulas mágicas, tudo depende da interpretação, que cada um dá ao conhecimento a que tem acesso.

Crónica disponivel em: http://mestresdofutebol.blogspot.com/