Frases que dizem muito...

"A forma não é física. A forma é muito mais do que isso. O físico é o menos importante na abrangência da forma desportiva. Sem organização e talento na exploração de um modelo de jogo, as deficiências são explícitas, mas pouco têm a ver com a forma física." (José Mourinho)

terça-feira, 30 de junho de 2009

DIÁRIO DE TREINADOR: O último jogo...

Este tempo de ausência foi devido à participação das nossas equipas de escolas em alguns torneios.

Este período foi extremamente positivo, houve momentos de alegria, felicidade, mas sobretudo de grande emoção. Tenho tido a sorte de conseguir ter bons grupos de trabalho e este não foi excepção. Dessa forma, é muito complicado quando nos apercebemos que nos temos de “separar” destes amigos, é isso que são os meus atletas, amigos.

O último torneio que fomos foi muito bom, mas para contar ninguém melhor que os miúdos.

“Partimos de autocarro às 10:30 de dia 26 de Junho. Foi uma viagem muito divertida porque vimos filmes, jogámos psp e ouvimos música. Parámos por volta das 13:00 para almoçar numa estação de serviço, ficámos sentados numas mesas de campismo e depois alguns foram comprar gelados. De seguida recomeçámos a viagem.

Chegámos ao hotel, perto das 15:30. Era um hotel muito bom. Fomos todos para um dos quartos para fazer a divisão por grupos pelos quartos e para definirmos as regras que tínhamos de cumprir. Cada grupo foi para os seus quartos, 101, 201,301,401,501, 504.

Às 17horas partimos para o estádio onde decorria o torneio, era um campo muito bom. Levantámos as senhas do jantar e fomos para o local onde serviam as refeições, a comida estava muito boa.

A primeira equipa a jogar foram os “Escolas B”, às 21:15, contra uma equipa espanhola chamada Deportivo Ciudad, jogaram muito bem e venceram por 8-0. Os “Escolas A” jogaram às 21:45 contra o SL Benfica e infelizmente perderam por 6-1 mas jogaram bem. Nos dois jogos apoiámos muito as equipas junto da nossa grande claque.

À meia-noite fomos para o hotel, estávamos cansados e, depois de os treinadores terem passado por todos os quartos, fomos dormir.

No dia seguinte acordámos cedo e fomos tomar o pequeno-almoço. A seguir quarto 501 como tinha um plasma organizou um torneio de playstation.

Ao meio dia, fomos de novo para o estádio levantar novamente as senhas para irmos almoçar. Depois fomos ao museu do papel e aprendemos como se faz o papel, também fomos ao zoo de aves onde estivemos com uma arara que “abanava o capacete” connosco. A seguir regressámos para o jantar.

Os “Escolas B” jogaram às 20:45 contra a equipa da casa, foi um jogo difícil mas mais uma vez jogaram muito bem e ganharam por 1-0 e assim iam à final. Os “escolas A” jogaram contra o União de Leiria e ganharam por 2-0, foi um grande jogo.

Tal como ontem chegámos tarde ao hotel, desta vez ficámos algum tempo acordados, os misters passaram por todos os quartos e ficaram um bocado em cada um a conversar e a rir.

No último dia tivemos de acordar mais cedo, desta vez jogávamos de manha, os “Escolas A” jogaram às 09:45 contra o Maravillas de Espanha e ganharam por 3-1. Os “Escolas B” jogaram a final contra o Calasanz de Espanha e apesar de jogarem muito melhor não conseguiram marcar e foram a penalties, ai eles tiveram mais sorte e ganharam por 6-5.

Hoje foi o último jogo que fizemos juntos e o mister comoveu-se quando falou connosco.

Gostámos muito deste torneio, foi muito divertido.”

Pois é, foi o meu último jogo com este grupo fantástico, são uns miúdos incríveis e que terão aqui um amigo para sempre. Dei tudo o que podia e sabia para ajudar a evolução destes jovens, tanto como atletas quer como pessoas. Grande época! A todos eles o meu OBRIGADO!

sábado, 6 de junho de 2009

DIÁRIO DE TREINADOR: Detecção e selecção de talentos

Eu, como a maioria dos treinadores neste momento, estou a realizar captações para a minha equipa. Dessa forma vou falar um pouco sobre este processo de selecção de jogadores.

Este procedimento pode ser dividido em duas vertentes: a observação de jogadores de outros clubes durante os campeonatos (prospecção) ou através de jogadores que venham prestar provas ao clube (treinos de captação).

A detecção de talentos tem algumas particularidades. Há quem pense que, para um bom treinador, é uma questão intuitiva, outros pensam que qualquer pessoa que acompanhe minimamente a modalidade consegue detectar, em jovens de 10,11,12 anos, aqueles que à partida terão capacidade para, mais tarde, virem a manifestar-se como óptimos atletas. Não é bem assim…

Para a maioria das pessoas quando observam um jogo ou um treino, o jogador que desperta mais atenção é aquele que consegue provocar mais desequilíbrios na equipa adversária, o que marca mais golos, tem mais pormenores técnicos, o defesa que consegue cortar todas as bolas, etc. Depois há aqueles que conseguem ter um olhar diferente e muitas vezes pensam para si, “aquele miúdo tem qualquer coisa…”.

Panteleo Corvino, responsável pela formação da Fiorentina, refere, “Quase toda a gente consegue identificar um jogador decente, mas compreender o potencial de um jovem é trabalho para um especialista”.

Não sei se será necessário um especialista, mas penso que é preciso olhar com atenção para os miúdos, há muitos que não são seleccionados porque deram pouco nas vistas no treino, mas se repararmos bem tudo o que fez foi bem feito e com qualidade. Há ainda jogadores que têm um enorme potencial e que infelizmente ainda não tiveram que os ajudasse a desenvolver…

Há atletas que não conseguimos “analisar” apenas numa observação, há diversos factores que podem influenciar as capacidades e o desempenho de um jovem. Eu por exemplo já tive um pai que esteve parte do treino a pressionar o filho e com toda a certeza que alguma influência teve no seu desempenho. Segundo Brown o envolvimento dos pais e as suas expectativas estão associadas ao sucesso e prazer da criança, assim como a pressão e o stress.

Segundo Mateo & Valdano, “O talento precisa de um lugar – todo o Homem tem virtudes e defeitos; Nietzsche teria sido um mau matemático e Roberto Carlos um vulgar médio centro”. Assim, tentem colocar os miúdos em diversas posições durante o treino, pode ser que tenham alguma agradável surpresa.

Ainda segundo os mesmos autores, “O talento precisa de confiança…”. Por isso incentivem todos os miúdos durante estes treinos. “O talento precisa de liberdade…” Não os limitem durante o jogo, não coloquem condicionantes, pois a liberdade é essencial para qualquer processo criativo. “O talento precisa de outros talentos…” Muitas vezes colocamos os jogadores da nossa equipa todos juntos e do outro lado só jogadores que estão a prestar provas, corremos o risco que um atleta passe despercebido no meio daquela equipa teoricamente mais fraca.

Observem com atenção todos os jogadores que vos chegam a pedir uma oportunidade, muitas vezes o talento está lá mas um pouco escondido…

Não se esqueçam também de ter atenção nesta altura à forma como falamos com os miúdos que não são seleccionados, muitas vezes sem darmos conta estamos a influenciá-los para a vida futura. Sei que não há uma maneira boa de dizer a um miúdo cheio de expectativas que não o iremos colocar na nossa equipa, mas há formas menos más…

Boa sorte para estes treinos de captação, espero ter ajudado de alguma forma…