Frases que dizem muito...

"A forma não é física. A forma é muito mais do que isso. O físico é o menos importante na abrangência da forma desportiva. Sem organização e talento na exploração de um modelo de jogo, as deficiências são explícitas, mas pouco têm a ver com a forma física." (José Mourinho)

quarta-feira, 6 de abril de 2011

HISTÓRIAS DO FUTEBOL: O incrível exemplo do Panyee FC

Esta não é uma história recente, segundo as informações tem cerca de 25 anos, mas vale sempre a pena recordar estes casos de paixão pelo futebol.

O Panyee FC, uma equipa de uma pequena ilha no sul da Tailândia (Koh Panyee), teve inicio em 1986 e, desde logo se prognosticava uma vida curta, ninguém julgava possível fazer uma equipa nesta localidade sem espaço, as dimensões reduzidas da ilha não davam lugar a hipóteses, sequer. Apenas um povo obstinado como este conseguiu quebrar todas as barreiras naturais.

Quando estamos numa ilha e olhamos à volta à procura de espaço o que encontramos? Isso mesmo, água. Então s habitantes deitaram mãos à obra e construíram um campo de futebol, em cima do mar. Com madeira e outros objectos montaram uma plataforma que satisfez o que todos queriam: jogar futebol. Assim, nasceu aí a equipa.

A história é, agora, um filme, aproveitada por um banco para uma campanha publicitária. O realizador é o australiano Matt Devine. Também ele desconhecia o Panyee FC, mas deixou-se conquistar.

«A parte mais fascinante da história é a paixão que eles tinham pelo futebol. É uma obsessão. Mesmo não tendo onde jogar, eles amavam aquilo. Os membros originais da equipa, que têm cerca de 40 anos agora, ainda vivem na ilha. Muitos deles são treinadores da equipa actual. Foi com eles que trabalhámos. Foram eles que nos contaram a história. São pessoas muito inspiradoras. Estavam entusiasmados pela sua história tornar-se num filme e só queriam que fosse contada sem qualquer erro», explicou.

O filme, uma curta-metragem de cerca de cinco minutos, retrata a génese do Panyee FC, praticamente pela voz dos protagonistas. «Nenhuma das pessoas no filme é actor. Todos eram habitantes da vila, o que complicou as filmagens no início. O grande obstáculo foi a língua. Eles não falam inglês e foi uma barreira que só foi ultrapassada com o tempo», conta.

A história está longe de terminar aí. O palco improvisado permitiu apurar as qualidades natas de quem devorava futebol. A equipa viria a oficializar-se para participar num torneio jovem, fora da ilha. Caiu nas meias-finais. Caiu de pé. Aliás, o Panyee FC vai para sempre cair de pé. A participação no torneio chamou a atenção das autoridades locais que construíram um palco de luxo, também ele sobre o mar, mas sem madeira, pregos levantados e com rede em volta. Um luxo.

«No filme, como é óbvio, a história foi um pouco romantizada para que tivesse emoção e beleza. Mas tentámos que fosse o mais fiel possível. Disseram-nos que o campo que construímos era dez vezes melhor que o original. O que ainda torna tudo mais fascinante, quanto a mim», afirmou Matt Devine.

Algumas histórias paralelas ficaram de fora deste pequeno filme. Por exemplo, Matt conta que «A ilha não tem carros, porque não há estradas com condições para eles circularem. Quando queriam jogar futebol, alguns deles, que moravam na parte mais interior, vinham a correr até ao cais onde ficava o campo, jogavam um jogo e depois corriam de volta para casa. Ora, as casas ficavam a cerca de 15 quilómetros do cais...»

Hoje em dia vemos os nossos miúdos sem paixão pelas coisas, é normal, cada vez têm de fazer menos para as conquistar. Aqui está um belo exemplo que deveriam seguir…


sexta-feira, 25 de março de 2011

DIÁRIO DE OBSERVADOR: Um jogo que me incomodou...

Para mim, as jogadas colectivas de uma equipa são verdadeiras obras de arte. Nunca gostei de futebol directo, provavelmente porque, enquanto jogador, me pediam para jogar dessa forma e sempre questionei essa opção. Observava os meus colegas do sector intermédio, que tinham uma qualidade técnica elevada, a passar muitas vezes ao lado do jogo, quando os deviamos aproveitar.

No fim-de-semana passado fui observar um jogo importante de futebol 7 (sub-12/sub13), jogava-se um apuramento para uma fase seguinte. Cheguei apenas no fim da primeira parte e, dessa forma, este texto está condicionado por isso.

Já não era o primeiro jogo observado nesse dia, era o quinto, mas houve algo neste jogo que me tem andado a fazer pensar a semana toda.

Uma das equipas durante o período que observei, não fez 5 passes seguidos entre os jogadores (não é exagero da minha parte). A estratégia era, sempre que tinham a bola jogar directo para o avançado. Agora há outra particularidade, o avançado trocava de 3 em 3 minutos mais ou menos e, tirando uma das substituições, apenas essa troca de avançados aconteceu passando por lá 3 jogadores distintos.

Resultado final, esta equipa ganhou o jogo! Como uma vez me disseram, se ganhou, o treinador tem sempre razão.

Posso vir a ser criticado, talvez seja um “romântico”, mas para mim tudo aquilo me fez confusão. Como queremos que os nossos jogadores aprendam (esta deve ser para mim a preocupação nesta idade) se o contacto que têm com a bola é limitado e o que fazem é colocá-la rapidamente na frente? Acredito que os miúdos e os pais no final do jogo festejaram mas e no futuro? Será que os miúdos vão estar mais fortes tecnicamente? Será que estão a ganhar mais competências para as próximas épocas? Tenho muitas reservas sobre isso.

Eu entendo o ponto de vista do treinador, embora pense de forma totalmente diferente, trabalha num clube onde, neste escalão, são quase sempre apurados para as fases finais, sabe que muitas vezes jogam contra equipas 1 ano mais novas (esta é sub-13 e a maioria neste campeonato é sub-12), o campo é grande e essa diferença de um ano a nível físico nota-se na força e velocidade dos seus atletas quando opta por jogar a bola no espaço. Ou seja, há uma certa pressão para conseguir ganhar, mas devemos por isso em primeiro plano e esquecer que estamos a trabalhar no futebol de FORMAÇÃO? A nossa preocupação deve e tem de ser com os miúdos e com a sua evolução…

Tenho de me deixar disto, tenho de me desligar e apenas ver os jogos…

sexta-feira, 11 de março de 2011

CULTURA DESPORTIVA: Lech Poznań

Descobri este video numa pesquisa pela internet. Incrivel o que se passa aqui, é um jogo de miúdos sub-12 e reparem no apoio destes adeptos. Em vez das claques nacionais se preocuparem com outros assuntos talvez pudessem começar também a apoiar os miúdos... Penso que não preciso referir que têm de perceber que o contexto é diferente do futebol sénior e as atitudes têm outro significado.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

CULTURA DESPORTIVA: Sevilla Fútbol Club

A semana passada fui a Sevilha numa viagem curta mas que me fascinou. Conhecer outras realidades, novas pessoas e com elas novas formas de ver o futebol e particularmente o futebol jovem. Tive oportunidade de visitar a Ciudad Deportiva José Ramón Cisneros Palacios e conhecer o director da "cantera" do clube, bem como o responsável pelo departamento de metodologia de treino.

Observei um pouco o treino da equipa de juvenis enquanto trocava algumas ideias sobre a forma como eles organizavam as suas equipas técnicas, como estavam a tentar modificar um pouco a sua metodologia de treino.

Procurei saber mais sobre a escola de futebol António Puerta (atleta do clube que faleceu) que funciona nas instalações do clube mas com total autonomia, recolhi informações sobre como faziam o recrutamento para as suas equipas, quais os clubes da Andaluzia e de Espanha que melhor estão a trabalhar na formação, ou seja, recolhi o maior número de informação possível.

Posteriormente voltei para o centro da cidade e para o estádio Ramón Sánchez Pizjuan onde conversei com algumas pessoas interessantes, uma delas o técnico da equipa de infantis do Sevilha que também é responsável por uma escola de futebol que funciona num colégio particular. Foi curiosa a conversa, devido ao torneio “Mundialito”, tem algumas recordações de equipas, jogadores e técnicos portugueses.

Por último assisti ao jogo Sevilla vs FC Porto. Gravei um filme que me fez criar esta nova categoria, “Cultura Desportiva”. É isto que o vídeo retrata!

DIÁRIO DE TREINADOR: Texto em jeito de desabafo...

Nunca escondi aqui que tenho como principal objectivo, não só ser treinador, mas coordenar o futebol de formação de um clube.

Irei aproveitar este “post” para contar uma experiência recente…

Na época de 2009/2010 fui convidado por um clube onde estava a trabalhar para coordenador da escola de futebol, em conjunto com outro colega que tinha sido escolhido pela direcção. O objectivo principal seria, aumentar bastante o número de alunos, ou seja, os directores tinham como preocupação clara o aspecto financeiro. Importa aqui dizer que o meu nome surgiu por indicação de outros colegas e não por escolha pessoal dos directores. Eu aceitei com a esperança de conseguir fazer tudo o resto que eles nem pensaram.

Comecei por criar um documento que fosse a base de todo o nosso trabalho. Que mostrasse o que queríamos no imediato, o que queríamos atingir daqui a 1 ano, a 3 anos. Quais os meios para o fazer etc. Procurei definir a metodologia a seguir, até ali era um pouco ao sabor de cada treinador. Surge o primeiro problema, não tinha a mesma visão do futebol de formação que o outro coordenador… Tentou chegar-se a um consenso.

A seguir organizei os horários, as turmas, o número de alunos limite em cada turma em função da faixa etária. Segundo problema, para os directores e o outro coordenador, teríamos de aceitar todos os alunos e nunca recusar nenhum, ou seja, levou a uma massificação e a qualidade logicamente nunca poderia ser igual.

Quis criar um planeamento de actividades para estarmos constantemente a proporcionar aos alunos jogos e torneios, as ordens foram para reduzir e teriam de ser sempre no nosso estádio (sobrelotado) … Fora era necessário ter treinadores para isso, e logicamente os gastos seriam maiores.

Outro aspecto onde tentei ter influência era na escolha dos treinadores, parecia-me lógico enquanto coordenador, se havia uma metodologia a seguir teria de se escolher gente com um determinador perfil. Impossível de fazer, a direcção utilizava a escola de futebol para aumentar a oferta de ordenado aos treinadores de competição, isto é, por exemplo o treinador dos juvenis iria receber x da competição e ainda y porque teria de ter 2 turmas na escola de futebol…

Claro que tudo isto começou a impedir que vários outros aspectos, considerados essenciais, fossem postos em prática, desde a elaboração de relatórios mensais por parte dos treinadores, seja o controlo das presenças dos alunos, do acompanhamento constante e individual das suas aprendizagens, nada era feito…

Foi conseguido o aumento do número de alunos (+/- 300), ou seja, objectivo cumprido, a verba que entrava no clube era muito superior. Pensei que com isso eu tivesse possibilidade de começar a inserir outros objectivos pouco a pouco. Errado, só deu mais problemas porque continuavam a querer mais e mais alunos, o dinheiro nem passava pela coordenação da escola de futebol para pagar às pessoas que mais mereciam, os treinadores. Começou a ser claro que, estando eu com outras ideias, os atritos surgiriam cada vez com mais frequência.

Bem como vêm uma série infindável de situações que ainda hoje se arrastam, a diferença é, que quem lutava para modificar tudo isso já não está (estou) no clube. Mostra que não é fácil conseguir implementar as nossas ideias…

Não quero com isto dizer que tenho todas as respostas, antes pelo contrário, cada vez mais procuro evoluir e ganhar novas ideias, tenho tido a oportunidade de conhecer novas organizações e estruturas, tudo isso me vai enriquecendo. Ainda há uma semana estive em Sevilha onde conheci um pouco de outra realidade (irei falar sobre esta experiência brevemente), tenho como objectivo lá voltar e também ir a outros locais fora de Portugal, experiências que já estão a ser planeadas, ou seja, continuo e continuarei em busca do meu sonho apesar do nosso futebol de formação estar cheio de gente com outros fins que não o melhor para os nossos jovens.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

ENTREVISTAS: Xavi Hernandez

O futebol é mais do que 22 jogadores e uma bola. Há muito que defendo, e falo neste espaço, que os clubes devem criar uma filosofia, não podem andar ao sabor das vontades de um ou outro treinador, nem dos dirigentes que continuo a achar que são os menos preparados no nosso desporto para os cargos que ocupam. Se todos os treinadores ou árbitros têm de fazer variados cursos porque é que qualquer um pode ser dirigente e muitas vezes aproveitar-se do futebol? Enfim, outros assuntos.

Voltando ao tema, cada vez mais sou da opinião que é fundamental criar a tal filosofia de clube. Para reforçar esta ideia vou aproveitar a entrevista de um dos melhores jogadores do mundo, Xavi Hernandez.

O Barcelona é a equipa de referência para o Mundo neste momento, e Xavi diz que é bom que assim seja. Por uma questão de princípio. "É bom que o ponto de referência para o futebol mundial seja o Barcelona, ou seja a Espanha. Não só porque é nosso, mas por causa do que é. Porque é futebol de ataque, não é especulativo, não espera", refere.

O médio do Barcelona explica que isso começa desde cedo, em "La Masia". "Algumas academias de formação preocupam-se em ganhar, nós preocupamo-nos com a educação. Vemos um miúdo que levanta a cabeça, passa à primeira e pensamos: 'Sim, vai dar'. O nosso modelo foi imposto pelo Cruijff. É o modelo do Ajax. Anda tudo à volta de meiinhos. Rondo, rondo, rondo. Sempre, todos os dias. É o melhor exercício que há. Aprendemos a ser responsáveis e a não perder a bola. Se perdermos a bola vamos para o meio. Pum-pum-pum-pum, sempre um toque. Se vamos para o meio é humilhante, os outros riem-se de nós."

Xavi descreve a sua forma de jogar, "O que faço é procurar espaços. A toda a hora. Estou sempre à procura. A toda a hora, a toda a hora. Aqui? Não. Ali? Não. As pessoas que não jogaram nem sempre percebem como é difícil. Espaço, espaço, espaço. É como na PlayStation. Penso merda, o defesa está aqui, jogo para ali. Vejo o espaço e passo."

Sendo esta uma ideia de jogo assimilada pelos vários companheiros torna tudo mais fácil, diz Xavi. Que revela ainda, "Há tantas opções de passe. Às vezes, até penso para comigo: o não-sei-quem vai ficar aborrecido porque fiz três passes e ainda não lhe dei a bola. É melhor dá-la ao Dani Alves, porque ele já subiu pela ala três vezes. Quando o Messi não está envolvido, é como se ficasse aborrecido... e então o próximo passe é para ele."

Naturalmente, "O sucesso validou a nossa abordagem". "Fico feliz, de um ponto de vista egoísta, porque há seis anos eu estava extinto; os jogadores como eu estavam em vias de extinção. Resumia-se a jogadores de dois metros, força, no meio, derrubes, segundas bolas, ressaltos..."

"Sou um romântico. Gosto que o talento, a habilidade técnica, sejam valorizados sobre a condição física", admite. E recorda o duelo da época passada com o Inter de José Mourinho: "O resultado é um impostor. Podemos fazer as coisas muito bem - no ano passado fomos melhores que o Inter -, mas não ganhamos. Há algo maior que o resultado, mais duradouro. Um legado. O Inter ganhou a Liga dos Campeões, mas ninguém fala deles."

Xavi admite, no entanto, que o Barcelona precisa de resultados. "Se estivermos dois anos sem ganhar tem de mudar” mas conclui com a ideia fundamental, "Mas mudam os nomes, não a identidade."