Frases que dizem muito...

"A forma não é física. A forma é muito mais do que isso. O físico é o menos importante na abrangência da forma desportiva. Sem organização e talento na exploração de um modelo de jogo, as deficiências são explícitas, mas pouco têm a ver com a forma física." (José Mourinho)

terça-feira, 22 de abril de 2008

DIÁRIO DE OBSERVADOR: Pedagogia


Esta semana vou aproveitar uma situação particular para falar do papel dos árbitros no futebol jovem.

Chegado ao intervalo de jogo que estava a observar, vejo o arbitro dirigir-se ao treinador de uma das equipas, achei estranho pois estava a ser um jogo muito correcto de ambas as equipas, assim, prestei atenção ao que foi dito: “Senhor treinador, o seu avançado já entrou várias vezes em carrinhos e em duas ocasiões atingiu os adversários, se possível converse com o jogador para ter atenção a essa situação”. O treinador prontamente agradeceu a indicação e prometeu ter uma conversa com esse jogador no balneário.

Ora parece-me ser esta a postura correcta que deve ter um árbitro num jogo de atletas tão jovens como era neste caso, apenas penso que também poderia ter tido uma conversa com o jogador aquando da ocorrência dessas situações.

Ainda há pouco tempo, Rui Mâncio, coordenador das selecções de futebol da Madeira, apresentou uma proposta de inserir um cartão azul, a ideia seria “promover a formação, com qualidade, num espaço que pretende ser pedagógico”.

Concordo com esta ideia de ser um espaço pedagógico mas, quantos dos intervenientes num jogo de futebol estão preparados a esse nível?
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Neste espaço estou constantemente a relatar atitudes reprováveis que vou assistindo por esses campos, desta vez observei uma atitude positiva mas infelizmente nem sempre é assim. Por esta razão, entre muitas outras, considero que os treinadores que vêm das faculdades de desporto estão mais capacitados para o treino de jovens. Na maioria dos cursos existem as cadeiras de pedagogia e psicologia do desporto. Nos cursos da associação, seja de treinadores seja de árbitros dão a devida importância a estes aspectos?

6 comentários:

Nelson Oliveira disse...

Este é um ponto sensível na formação e um ponto que me tem "afectado" diversas vezes esta época desportiva.

Conto pelos dedos de uma mão os árbitros que se mostraram preparados para apitar jogos de escolas.

Assisti a situações lamentáveis como: um arbitro dentro de campo, perante miúdos de 9 anos, a insultar um pai e a desafia-lo para um duelo físico.
Um trio de arbitragem no túnel para o relvado á espera que parasse de chover..quando as duas equipas já se encontravam em pleno relvado e a apanhar chuva e frio (estamos a falar de miúdos de 10 anos), um arbitro a assinalar num espaço de 10 minutos 5 lançamentos errados sem se preocupar em explicar aos atletas o que estava mal (que eu sinceramente não consegui descortinar) ou um árbitro a conseguir levar ás lágrimas um miúdo pela forma como se dirigiu a ele.
Enfim, são situações lamentáveis.

De qualquer forma os arbitros não são os lobos maus desta situação, uma vez que entre treinadores, dirigentes e os próprios adeptos muitos são aqueles que usam linguagem e se comportam de uma forma pouco digna e pouco adequada.

Se os jovens licenciados estarão mais preparados para lidar com jovens atletas? Sim e não.
Sim porque na faculdade têm, como ja referido, cadeiras nesse sentido.
Não, porque não gosto de generalizar.
Penso que esta questão pode variar segundo várias questões. Questões socio-economicas, questões geográficas, etc.
Aquilo que me tenho apercebido é que os clubes de centro de cidade, os clubes situados em zonas com uma qualidade de vida superior..costumam apresentar treinadores mais conscientes. Em zonas geográficas mais de interior, mais "pobres" noto que uma boa parte deles não têm mínima noção de como falar como os miúdos.
Mas lá está..aqui também não posso generalizar.

Conclusão: Concordo que a "nova vaga" esteja mais consciente para a pedagogia no desporto, mas não é regra.
E creio que os treinadores jovens que vão aparecendo (mesmo os não licenciados) pela facilidade em chegar á informação, pela quantidade de livros que hoje em dia se podem comprar, por uma nova mentalidade, etc, estão mais preparados para lidar com crianças.
Podem argumentar: Ah...mas não têm o mesmo sucesso que os "ratos velhos". Mas eu pergunto: trabalha-se para formar (onde de qualquer forma está implícito a vontade de ganhar, pq todos os miúdos têm vontade de o fazer)? ou trabalha-se para os resultados?

Dennis Bergkamp disse...

Muito importante o post, e muito importante o comentário do Nelson Oliveira.

Antes de mais, o arbitro era um moreno de cabelo curto, espetado e com pera?

Se era esse... está explicado, é fantástico esse arbitro no que diz respeito a pedagogia, a maneira de estar e se comportar e falar com os treinadores, jogadores e afins.

Concordo também com a não generalização do "se veio da faculdade tem o que é preciso para ser treinador de jovens, se veio da associação não está preparado para isso"

Depende sempre dos casos, há colegas de faculdade que passam por la, fazem as cadeiras mas não mudam a maneira de pensar, tal como ha jovens, que tiram os cursos da associação, e têm uma atitude fantástica, devoram tudo o que é literatura e têm uma postura "como deve ser".

Mas sim, em condições normais, quem sai da faculdade está mais preparado para lidar com os jovens, grande parte da licenciatura tem essa preocupação.

acredito que nos cursos da associação também exista essa preocupação, mas será tudo meio "por alto" já que no curto espaço de tempo que o curso tem, não é possivel abordar tudo o que seria necessário com a intensidade desejada.

Ricardo Damas disse...

Parece-me importante esclarecer que não quero com este texto generalizar e dizer sai da faculdade é bom, sai da associação é mau.

Agora acho sinceramente quem tem cadeiras como pedagogia teoricamente está melhor preparado para o treino de jovens, por isso acho importante também os cursos da associação terem algo do género.

Outro aspecto é não concordar com a politica de excluir os licenciados em desporto de ser treinador, ou melhor, so podem ser depois de tirarem o curso I da associação que sinceramente penso não vir a acrescentar em nada a formação que já tiveram anteriormente.

Dennis Bergkamp disse...

Exacto, isso então é uma aberração.

Não cabe na cabeça de ninguém, não darem logo o nivel 1 a alguém com a licenciatura em educação fisica e desporto.

Ainda mais agora com o tratado de Bolonha, com as alterações do curso vou passar a ter 3 anos de especialização em futebol, 3 anos! com estágio incluido.

Pelo menos direito ao nivel 2 devia dar. Qualquer pessoa que saia da faculdade com 3 anos de futebol está mais qualificada para treinar uma equipa do que alguém que tenha 2 cursos de 3 ou 4 meses da associação.

Diogo Sousa disse...

Ora nem mais, eu ainda á 3 anos joguei nos infantis, julgo que sub-12 e fui "expluso" de varios jogos.
Houve um arbitro que no fim do jogo quis falar comigo em privado no balneario dele, eu fui ter com ele, nao vou revelar a nossa conversa mas garanto-vos que depois dessa conversa nunca mais levei um cartao ou fui expluso de algum jogo, mesmo depois subi de escalão (iniciados, sub-14) onde os arbitros nao pensam duas vezes e se for preciso mostram logo cartao.

Ja agora, o arbitro e um senhor que custuma fazer equipa com o Joao Vilas-Boas (Braga) e é o fiscal de linha que fica no lado dos bancos, caso queiram ver o arbitro que mudou a minha atitude nao só no futebol mas tambem na vida!

Abraço

PLST - Training Team, Lda. disse...

Na minha opinião, todos os quantos dizem pensar e organizar o futebol jovem em Portugal, deveriam preocupar-se em promover o desenvolvimento social e educacional dos jovens atletas, fornecendo-lhes uma formação com qualidade num âmbito psicopedagógico com a colaboração de todos os intervenientes na formação da criança: os clubes, os treinadores, dirigentes, árbitros e familiares.

Sabe-se hoje, com base em estudos científicos, que o desporto ajuda a desenvolver o respeito pelas regras (indicador de boa formação desportiva), a iniciativa, a pontualidade, a lealdade e as boas maneiras.

Devemos no entanto realçar que estes atributos e comportamentos não são inatos, mas são transmitidos por quem ensina e que nada têm a ver com “Boa formação desportiva” as qualidades técnicas de execução ou do gesto, pois mesmo que estas sejam excelentes, a formação e educação pode ser reduzida ou mesmo nula.

Em Portugal observa-se uma imagem negativa no que diz respeito à formação. O futebol nacional é marcado por alguma indisciplina e sobretudo por maus exemplos, quando vemos jogadores a insultar os árbitros ou a adoptarem posturas agressivas perante os mesmos. Ora isto acontece, pois formam-se crianças esquecendo os valores e comportamentos essenciais na vida social dos jovens praticantes.
Antes de formar atletas de alto rendimento, virados para o sucesso desportivo, devemos pensar em formar o cidadão.

O desporto funciona como um pólo que realça os valores da cidadania e do trabalho em equipa ao mesmo tempo que combate fenómenos destrutivos que caracterizam a nossa sociedade (droga, violência e criminalidade).

O respeito pelas regras, opositores e pelas decisões dos árbitros, bem como outros comportamentos e condutas desportivas, não são manifestações de uma boa formação desportiva? A organização e disciplina nos treinos não são factores de sucesso na prestação desportiva? Todos estes comportamentos e atributos tem que ser transmitidos por quem ensina uma modalidade desportiva, de acordo com um quadro social que os aprova e reconhece a respectiva importância no relacionamento em sociedade.

Abraço.
Luciano Branco
efgeracaobenfica.blogspot.com