Frases que dizem muito...

"A forma não é física. A forma é muito mais do que isso. O físico é o menos importante na abrangência da forma desportiva. Sem organização e talento na exploração de um modelo de jogo, as deficiências são explícitas, mas pouco têm a ver com a forma física." (José Mourinho)

terça-feira, 15 de abril de 2008

FUTEBOL JOVEM E O MUNDO: FC Utrecht


Estou de volta a esta crónica que tanto gozo me dá. Tenho andado com mais trabalho na faculdade e, assim, este trabalho de pesquisa teve de ficar um pouco de parte.

Hoje vou até à Holanda, país que aposta forte no futebol de formação, para falar do FC Utrecht e do seu treinador Michael Horddijk, responsável pelo treino técnico e que tem de lidar com diferentes tipos de jogadores.

Em primeiro todas as equipas têm um grupo de jogadores que não dão muita atenção à vertente técnica do futebol, muitas das vezes destacam-se pela vertente física, fortes e combativos, o típico médio defensivo que está em campo para recuperar bolas mas que muitas vezes voltam logo a perdê-la devido às suas deficiências técnicas. Assim é de extrema importância continuar a estimular e motivar estes jogadores para o treino técnico pois como sentem dificuldades muitas vezes desistem. Como diz o técnico, “estes jogadores nunca serão um Ronaldinho, mas isso também não é necessário, porque nós também precisamos de Makeleles”.

Numa segunda categoria temos os dribladores, os jogadores que conseguem fazer as coisas mais incríveis com a bola mas em jogo, na maioria das vezes, as suas acções não trazem vantagens à equipa e, tanto os colegas como eles próprios sentem-se frustrados. Michael refere "Há pessoas que acreditam que nós devemos deixar estes jogadores driblarem e ter a bola, assim, eles irão continuar a desenvolver as suas capacidades técnicas. Eu apenas concordo em parte com isso, eu penso que devemos permitir os jogadores fazer as suas coisas até aos sub-11, mas depois disso eles, gradualmente, devem aprender outras qualidades".

Uma das formas de limitar este contacto com a bola é através do número de toques permitidos. Michael Horddijk discorda desta forma de actuar “Não sou um grande apoiante, assim, estamos a tirar a alegria do jogo e estamos a proibir as coisas onde eles são bons. Uma solução mais funcional é dizer a esse jogador que não pode passar por mais que um jogador a cada posse de bola. Dessa forma ele continua a fazer as suas coisas.”

Michael é da opinião que “ter um treinador de técnica não é supérfluo nem luxuoso. Com certeza que nem todos os clubes conseguem ter um treinador destes, mas esta é uma questão de criatividade. Quase todos os clubes têm um jogador ou treinador que é “tecnicamente inteligente” e pode trabalhar com os jovens jogadores. Eu conheço alguns jogadores sub-19 que treinam os miúdos nos seus clubes.”

Com um treinador específico podemos criar a possibilidade de trabalhar de pequenos grupos. Podem separar metade da equipa para treinar a vertente técnica enquanto a outra metade treina com o treinador da equipa situações posicionais e de manutenção da posse de bola. Desta forma é garantida atenção individual para os jogadores que podem treinar de forma muito específica.

Confesso que não tenho uma opinião forte sobre este treino técnico de forma isolada. Posso apenas dizer que por exemplo na minha equipa prefiro trabalhar utilizando sempre a minha forma de jogar, isto é, não irei perder um treino, ou parte dele, para trabalhar exclusivamente a vertente técnica. Isto não quer dizer que sou contra este treino como um complemento, por exemplo eu peço aos meus miúdos para verem vídeos na internet e escolher uma finta ou drible para treinar e antes de começar o treino me mostrarem o que sabem. É uma forma de trabalhar a técnica sem deixar de treinar da forma que penso ser a mais indicada.

2 comentários:

Nelson Oliveira disse...

Será muito interessante, para quem tiver essa possibilidade, de dividir o plantel em grupos de 4,5 jogadores (estou a falar de escolas) e na hora anterior ao treino aplicar um bocadinho de treino de técnica individual (1 grupo por cada hora).
Exercícios não muito exigentes em termos físicos mas muito ricos no que se refer ao contacto com bola.

Alias, quem conhecer e souber aplicar utilize um bocadinho dos fundamentos do método de coerver.

Em 3,4 meses..esta espécie de treino individualizado terá frutos enormes que depois puderão ser aproveitados para trabalhar os aspectos colectivos.

nota: Ao aplicar esta forma de trabalho, nunca nos estaremos a esquecer do trabalho que incide sobre o colectivo (embora mesmo neste se trabalhe a componente individual), isto pq o numero de horas de treino será a mesma para aplicar essa metodologia.
O treino individualizado será treino "extra".

Ricardo Damas disse...

Eu tenho esse trabalho extra antes do treino, a que os miúdos chamam o tempo do "joga bonito".Como referi no artigo, digo aos miúdos para procurarem fintas e dribles, depois nesse tempo é ajudá-los a aperfeiçoar. Eu treino muito cedo, poucos miudos conseguem vir antes da hora do treino por isso fico sempre com esse grupo reduzido de 4,5 jogadores.

Um dos principios que os meus miúdos têm é, sempre que um adversários não tem cobertura defensiva têm de tentar o 1x1. Assim, a tal componente individual está sempre present, dentro do trabalho colectivo, dentro da nossa forma de jogar. Aliás penso ser essencial neste escalão (escolas) existir esta preocupação com o relacionamento do atleta com a bola.