Frases que dizem muito...

"A forma não é física. A forma é muito mais do que isso. O físico é o menos importante na abrangência da forma desportiva. Sem organização e talento na exploração de um modelo de jogo, as deficiências são explícitas, mas pouco têm a ver com a forma física." (José Mourinho)

segunda-feira, 19 de julho de 2010

PENSAR FUTEBOL: Análise ao futebol actual

Um dos temas mais discutidos durante este mundial de futebol foi o facto de algumas selecções renunciarem ao seu “estilo habitual”, isto é, à sua identidade. Eu acho que a análise deve ser um pouco mais profunda…

Decorria o ano de 1991 e na equipa do Estrela Vermelha encontrávamos jogadores como Prosinecki, Savicevic, Pancev, Mihajlovic o Jugovic. Nesse ano conseguiriam “chocar” meia Europa sangrando-se campeões europeus no estádio olímpico de Marselha vencendo nas grandes penalidades o Bayern Munique. Mas o que retive do texto que li sobre este dia foi o que disse o treinador, Ljupko Petrovic, na palestra à sua equipa: “divirtam-se”

De lá para cá o futebol alterou-se. A teoría ganhou protagonismo e a táctica domina sobre a bola e o talento individual dos jogadores. O futebol é um desporto de equipa e tem que agir como tal, uma vez que é o grupo que ganha jogos e os jogadores têm de fornecer os seus argumentos em busca da vitória colectiva, mas muitas vezes ficamos com a impressão, na hora em que assistimos a um jogo, de que o sacrifício do talento individual dos jogadores é por vezes excessivo.

Nos últimos anos a figura do treinador encontrou a sua dimensão máxima, lógicamente sempre foi importante mas mantinha-se na “sombra” dos seus jogadores, esses sim os verdeiros protagonistas. Veja-se o caso actual mas mediático, José Mourinho. Agora uma equipa parece-se mais com a ideia do seu treinador que com as características individuais dos seus atletas. Mais uma vez recorro ao treinador português, veja-se a maneira como jogou Samuel Eto´o este ano, tácticamente muito disciplinado, mas provávelmente menos “espetacular” no verdadeiro sentido da palavra.

Eu admiro uma equipa onde todos remam na mesma direcção e em que toda a gente conhece o seu papel, onde são pouco visíveis as ausências de determinados atletas quando os seus substitutos são chamados a intervir. É importante saber o papel a ser desempenhado, em que a solidariedade e a entreajuda são os principais factores. Mas, por outro lado, eu também admiro o talento puro de um jogador, é por isso que os adeptos pagam bilhetes, à procura de lances de génio. Isto é, hoje parece-me que um jogador tem de se adaptar a uma ideia, mas poucas são as vezes onde apresenta a sua.

Uma das grandes virtudes de um treinador, é saber obter a melhor performance dos atletas que tem à sua disposição. Obviamente, nem sempre tem a possibilidade de ter jogadores na sua equipa com elevada qualidade técnica ou os chamados génios da bola, e no futebol têm de coexistir estilos diferentes de forma a enfrentarem-se durante o jogo na procura da vitória. Mas a tendência nos últimos anos é procurar essa vitória através de um bloco fechado e compacto, com as linhas bem próximas, onde o importante é vencer antes de jogar bem, onde o talento e a bola são coadjuvantes em favor do resultado.

Não obstante os limites são necessários e o futebolista deve adaptar-se à sua equipa. Recordemos o caso de Rivaldo, que se tornou o melhor jogador do mundo pela mão de Van Gaal, jogando pelo corredor esquerdo, onde o brasileiro sempre alegou não se sentir em casa. Com saída do técnico holandês surgiu Serra Ferrer e com ele os caprichos concedidos a Rivaldo para jogar no centro, com total liberdade de movimento. Aí ele começou seu declínio. Os jogadores precisam entender que têm de jogar para a equipa e não para si mesmos, pois quando isso acontece ambos saiem prejudicados, a equipa e o jogador.

O treinador tem de saber também, por seu lado, que os jogadores devem ter o seu espaço, a liberdade de criar e improvisar como um actor num dia inspirado. A vitória é o fim ao cabo o mais importante, mas futebol deslumbra com os tais lances espectaculares. O jogador tem ir para dentro do campo para desfrutar do jogo, o futebol é o seu trabalho, mas também a sua paixão (não é por isso que todos vivemos o futebol). Se uma equipa consegue vencer ganha o clube, se os jogadores se divertem, ganhamos todos.

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