Frases que dizem muito...

"A forma não é física. A forma é muito mais do que isso. O físico é o menos importante na abrangência da forma desportiva. Sem organização e talento na exploração de um modelo de jogo, as deficiências são explícitas, mas pouco têm a ver com a forma física." (José Mourinho)

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

DIÁRIO DE TREINADOR: Texto em jeito de desabafo...

Nunca escondi aqui que tenho como principal objectivo, não só ser treinador, mas coordenar o futebol de formação de um clube.

Irei aproveitar este “post” para contar uma experiência recente…

Na época de 2009/2010 fui convidado por um clube onde estava a trabalhar para coordenador da escola de futebol, em conjunto com outro colega que tinha sido escolhido pela direcção. O objectivo principal seria, aumentar bastante o número de alunos, ou seja, os directores tinham como preocupação clara o aspecto financeiro. Importa aqui dizer que o meu nome surgiu por indicação de outros colegas e não por escolha pessoal dos directores. Eu aceitei com a esperança de conseguir fazer tudo o resto que eles nem pensaram.

Comecei por criar um documento que fosse a base de todo o nosso trabalho. Que mostrasse o que queríamos no imediato, o que queríamos atingir daqui a 1 ano, a 3 anos. Quais os meios para o fazer etc. Procurei definir a metodologia a seguir, até ali era um pouco ao sabor de cada treinador. Surge o primeiro problema, não tinha a mesma visão do futebol de formação que o outro coordenador… Tentou chegar-se a um consenso.

A seguir organizei os horários, as turmas, o número de alunos limite em cada turma em função da faixa etária. Segundo problema, para os directores e o outro coordenador, teríamos de aceitar todos os alunos e nunca recusar nenhum, ou seja, levou a uma massificação e a qualidade logicamente nunca poderia ser igual.

Quis criar um planeamento de actividades para estarmos constantemente a proporcionar aos alunos jogos e torneios, as ordens foram para reduzir e teriam de ser sempre no nosso estádio (sobrelotado) … Fora era necessário ter treinadores para isso, e logicamente os gastos seriam maiores.

Outro aspecto onde tentei ter influência era na escolha dos treinadores, parecia-me lógico enquanto coordenador, se havia uma metodologia a seguir teria de se escolher gente com um determinador perfil. Impossível de fazer, a direcção utilizava a escola de futebol para aumentar a oferta de ordenado aos treinadores de competição, isto é, por exemplo o treinador dos juvenis iria receber x da competição e ainda y porque teria de ter 2 turmas na escola de futebol…

Claro que tudo isto começou a impedir que vários outros aspectos, considerados essenciais, fossem postos em prática, desde a elaboração de relatórios mensais por parte dos treinadores, seja o controlo das presenças dos alunos, do acompanhamento constante e individual das suas aprendizagens, nada era feito…

Foi conseguido o aumento do número de alunos (+/- 300), ou seja, objectivo cumprido, a verba que entrava no clube era muito superior. Pensei que com isso eu tivesse possibilidade de começar a inserir outros objectivos pouco a pouco. Errado, só deu mais problemas porque continuavam a querer mais e mais alunos, o dinheiro nem passava pela coordenação da escola de futebol para pagar às pessoas que mais mereciam, os treinadores. Começou a ser claro que, estando eu com outras ideias, os atritos surgiriam cada vez com mais frequência.

Bem como vêm uma série infindável de situações que ainda hoje se arrastam, a diferença é, que quem lutava para modificar tudo isso já não está (estou) no clube. Mostra que não é fácil conseguir implementar as nossas ideias…

Não quero com isto dizer que tenho todas as respostas, antes pelo contrário, cada vez mais procuro evoluir e ganhar novas ideias, tenho tido a oportunidade de conhecer novas organizações e estruturas, tudo isso me vai enriquecendo. Ainda há uma semana estive em Sevilha onde conheci um pouco de outra realidade (irei falar sobre esta experiência brevemente), tenho como objectivo lá voltar e também ir a outros locais fora de Portugal, experiências que já estão a ser planeadas, ou seja, continuo e continuarei em busca do meu sonho apesar do nosso futebol de formação estar cheio de gente com outros fins que não o melhor para os nossos jovens.

7 comentários:

Dário Pinto disse...

Compreendo-te perfeitamente Ricardo, este ano também iniciei a coordenação de uma escola de futebol e os problemas são idênticos. Se bem que tenho, aqui e ali, ganho terreno.

Fundamentalmente penso que devemos aprender o mais possível com estas experiências.


Abraço!

Ricardo Damas disse...

Caro Dário,

Infelizmente ainda é dificil neste país conseguir fazer um trabalho de forma autónoma com objectivos definidos e só no fim de um determinado tempo ser avaliado pelo trabalho.

Os responsáveis por vezes recrutam outras pessoas para fazer o trabalho que eles não conseguem for falta de competências para tal e no fim tentam ficar com os louros e dizer que foi da forma que eles disseram.

Mas continuo a achar que a competência acaba por ser reconhecida mais tarde ou mais cedo.

Fico satisfeito por saber que também estás a coordenar um projecto semelhante. Temos de falar mais um pouco e trocar ideias.

Abraço

vitor disse...

é verdade,tudo o que disse sobre coordenar.sabendo que o aspecto financeiro é muito importante,mas que nao deve ultrapassar o "ser humano" naquilo que dever ser...mas,infelizmente ainda continua muito cada um por si,cada treinador segue a sua filosofia e isso nao é correcto,podemos definir,lançar um trajecto e claro,aos poucos ir aperfeiçoando e actualizando...mas,tambem existem coordenadores que nao coordenam,apenas deixam andar cada um por si...ja agora,qual o numero de atletas aconselhavel para cada monitor/treinador??? e sobre o aspecto social/desportivo??? até quando(escalao) estas duas vertentes andam juntas???......e sobre a metodologia,cada país,cada cultura estuda os seus atletas e define o que é melhor,penso eu que devia ser assim.....um abraço e excelente blog :)

Ricardo Damas disse...

Vitor,

São muito variadas as dificuldades que nos aparecem ao longo de um percurso, o problema é quando sabemos quais as ferramentas para as ultrapassar e não nos é possivel fazer.

Em relação às tuas questões, apenas te posso falar sobre o que eu acho correcto, ou seja, a minha opinião.

Em relação ao número de alunos alunos por treinador penso que deve variar de acordo com o escalão em que estamos a trabalhar, isto é, uma turma sub-7 não pode ser o mesmo que uma turma sub-13. Quanto mais baixa a idade maior atenção temos de dar aos nossos alunos. Por exemplo numa turma sub-7 penso que não deveria ultrapassar os 10 alunos por treinador.

Em relação a essa ligação social-desportivo penso que depende muito do clube em que estamos a trabalhar. Qual o contexto social da comunidade em que o clube está inserido, quais os objectivos desportivos propostos, a orgânica do clube e que outras ofertas de actividades temos, etc...

Resumindo não é fácil te responder. O que te posso dizer é que eu antes de começar a organizar o meu trabalho, por exemplo de coordenação de um clube,procuro saber o mais possivel do clube, da comunidade, tento saber como funcionam os clubes envolventes, etc..

Espero que tenha ajudado de alguma maneira. Qualquer outro questão deste ou de outros assuntos estás inteiramente à-vontade.

Um Abraço

Nelson Oliveira disse...

Permitam-me uma opinião diferente mas também ela dentro desta lógica.

A minha experiencia foi curta, mas como coordenador do futebol de iniciação de um clube (acumulando função de treinador).

As ideias existiam, na altura eu e um colegas começamos a criar um documento, a pensar nas coisas, a amadurecer ideias, mas claro..nos primeiros tempos a aprender e a apalpar terreno.

Numa primeira fase, apesar das limitações mt grandes orçamentais, tivemos espaço para escolher as equipas técnicas, era uma exigencia nossa.

Fomos em busca de malta que queria aprender e que estava disposta a aceitar a oportunidade sem grande contrapartida financeira (Dário incluído).

Mas a partir do momento em que percebemos (eu e o meu colega repito) que não nos iriam dar margem ou espaço para trabalhar exactamente como queriamos e com a tranquilidade e independencia que procuravamos, decidimos 3 meses depois abandonar o projecto, até pq os problemas de coordenação já interferiam na nossa "paciencia" com os miudos da equipa que treinavamos.

Como tal, acho que acima de tudo nunca devemos adulterar as nossas ideias pq alguém que pouco percebe mas que tem um papel de relevo num clube..nos tenta trabalhar de forma diferente.

Se temos convicção naquilo em que acreditamos e achamos que é esse o caminho, podemos fazer cedencias aqui e ali em detalhes, mas nas ideias gerais e naquilo a que eu chamo de: questão de qualidade de trabalho e organização, não podemos nem devemos ceder.

Se o fizermos é mt simples: deixamos de trabalhar aquilo em que acreditamos, deixamos como cartão de visita uma imagem errada das nossas ideias e o cargo fica mt bonito no papel, no currículo, mas a nossa imagem ficará sempre ligada a algo em que não nos revemos.

Voces, eu, nós..jovens, que gostamos de futebol e buscamos incessantemente conhecimento e experiencia, temos de ter paciencia.
É quase como o início de uma carreira de jogador. Podemos ter talento, recursos, margem de progressão..mas se quisermos depressa de mais, podemos tomar más opções de carreira e ficarmos com uma imagem no meio que não queremos.

Ás vezes é preciso mesmo deixar o comboio passar.
Estou certo que quem trabalha com honestidade, qualidade e coração..acaba sempre por ter portas abertas..amanha, daqui a um ano..ou daqui a 5..mas as oportunidades aparecem.


Pode parecer uma opinião idealista..tenho tido a sorte das coisas me aparecerem, das oportunidades surgirem, mas acredito piamente nisto.
Ou trabalhamos de acordo com aquilo em que acreditamos ou mais vale nao aceitar esses desafios.
Para além da imagem errada que damos de nós próprios, nunca seremos capazes de trabalhar com o mesmo amor, empenho...pq no fundo e por vezes até inconscientemente não acreditamos no que estamos a fazer.

Abraço a todos!

Ricardo Damas disse...

Amigo Nélson,

O teu comentário segue a linha do meu texto.

Porque tal como tu abandonei o projecto porque não podia fazer as coisas da maneira que tinha planeado (não quero com isto dizer que a minha maneira está certa), porque a minha disposição não era a mesma e sobretudo porque senti que podia estar a prejudicar os meus alunos/jogadores por esses problemas extra-grupo.

Tenho ideias muito definidas e principios de que não irei abdicar e por isso com muita pena minha "abandonei os meus meninos".

A vida não é uma linha recta e este episódio foi apenas mais uma das curvas que temos de fazer para chegar ao nosso destino...

Um abraço

Cidade Mega Sport disse...

Todas essas ideias e com avossa organização só podem acontecer se se tiver um projecto próprio.Tal como acontece em Espanha existem ideias que podem ser aplicadas com uma empresa privada,tal como já existe em Portugal.Existem muitos exemplo de imitações em Portugal copiadas do estrangeiro,seria muito fácil reunir todos os recursos e fazer um projecto lindo,mas infelizmente em Portugal cada um joga para si mesmo, inclusive os jogadores mais nomeados.