Se pensarmos na origem dos melhores jogadores do mundo, eles não surgiram em grandes academias, campos relvados e com botas fantásticas. Foi sim em bairros de lata, terrenos baldios e muitas vezes de pés descalços. Como explicar este fenómeno?
Esta reflexão pode levar a colocar a questão se afinal, um grande jogador é produto de fabrico laboratorial ou de geração espontânea? Muita gente irá responder que é um pouco dos dois aspectos. É verdade, mas, na origem está o talento. Depois, estarão as condições para o trabalhar. Procurando, porém, reproduzir o habitat de origem.
Em conversa com Carlos Manuel, o antigo jogador do Benfica e actualmente treinador do Atlético, surgiu o assunto futebol de formação em que ele disse que “os miúdos agora são muito robotizados”, infelizmente tenho de concordar com ele, o futebol de rua é muitas vezes referido como universidade de craques. Ora é isso mesmo que os centros de formação ou escolinhas devem procurar, reproduzir em “laboratório” esse futebol que era jogado na rua (que quase desapareceu das nossas cidades) e cruzá-lo, depois, com melhores condições de lapidar esse talento. Por isso frases como “ Joga a um - dois toques!” ou “não podes fintar tanto”, não fazem sentido no processo de formação que se quer, no início, puramente livre e experimental. O corpo deve começar a desenvolver a relação com a bola de forma natural. Só depois entra, anos mais tarde, a componente técnica, a noção do jogo no sentido colectivo mais lato do termo e suas componentes tácticas.
Nenhum talento nasce num laboratório. O treinador/formador serve primeiro para guiar, só depois para ensinar. No fundo, o craque adulto dos relvados deve ser o prolongamento do miúdo talentoso dos baldios. É hoje também claro que a formação e preparação desportiva das crianças e jovens, deve ser, substancialmente diferente da dos adultos. Para mim é estranho por isso que exista ainda quem não compreenda esta questão e que trabalhe com jovens como se fossem adultos e muitas vezes essa situação leva a que os jovens percam o gosto pela prática desportiva.
futjovem.blogspot.com
É pena os clubes não se preocuparem mais com estas questões e que coloquem à frente da sua formação gente que não mostre a mínima competência para o cargo.
1 comentário:
Não podia estar mais de acordo contigo Ricardo.
Ainda se vê muita gente a trabalhar com os miudos como se estivesse a trabalhar com adultos, a tratar os miudos como se fossem adultos, e a escolherem para os treinos situações que eles proprios experenciaram nos treinos enquanto foram jogadores.
A formação dos miudos, tem obrigatóriamente de passar pela formação dos treinadores. Mas não chega, importa que diariamente os treinadores se questionem sobre o seu trabalho, sobre o que podem fazer melhor, para que os seus atletas consigam aproximar a capacidade real do potêncial que mostram ter.
Abraço
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