Frases que dizem muito...

"A forma não é física. A forma é muito mais do que isso. O físico é o menos importante na abrangência da forma desportiva. Sem organização e talento na exploração de um modelo de jogo, as deficiências são explícitas, mas pouco têm a ver com a forma física." (José Mourinho)

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

CRÓNICA SEMANAL: Qualidade de ensino


Hoje em dia parece-me claro que a sociedade e mais especificamente as famílias estão conscientes da importância do desporto no desenvolvimento dos jovens. Em consequência desta percepção o mercado de oferta cresceu e podemos ver por exemplo escolas de futebol por todo o lado.

Enquanto antigamente eram exclusivamente os clubes que ofereciam esta actividade desportiva de modo organizado, hoje é possível encontrar escolas de futebol numa perspectiva comercial.

Se o crescimento da oferta torna esta actividade acessível a todos, já o facto de acontecer apenas numa perspectiva comercial aumenta o risco da qualidade nem sempre ser a adequada a uma actividade dedicada aos jovens.

Muitas vezes esta situação leva a que não sejam respeitadas algumas regras que devem estar inerentes a uma actividade que visa o desenvolvimento dos jovens, nem as regras associadas a um negócio que deve ser servir o cliente e não explorá-lo para benefício financeiro.

Há ainda o facto de, quem gere estas escolas muitas das vezes não ter a formação adequada para avaliar a qualidade do trabalho que esta a ser realizado, nem segue critérios rigorosos para a escolha da equipa técnica que insere na actividade que está a fornecer ao público.

São diversos os casos que conheço que os treinadores não têm qualquer formação para trabalhar com jovens e o que fazem é tratá-los como adultos em miniatura fornecendo-lhes actividades totalmente inadequadas. Há ainda casos de escolas, onde é suposto os jovens estarem a aprender a jogar futebol, serem entretidos em actividades/exercícios que, ao contrário de visarem objectivos técnico-pedagógicos que visem o seu desenvolvimento, apenas têm por objectivo queimar tempo até ao termo da aula com um professor/treinador pouco motivado ou competente. Não nos podemos esquecer também que muitas vezes podemos estar a por em risco a saúde dos jovens.

Assim, é importante que os pais se informem sobre a qualidade subjacente às actividades onde colocam os filhos e que se mantenham atentos ao trabalho aí desenvolvido.

4 comentários:

Dennis Bergkamp disse...

Não podia estar mais de acordo!

Sejam escolas de futebol, seja a "formação" nos clubes, essas turmas não podem ser entendidas como um meio "facil" de ganhar dinheiro.

O que se vê em muitos clubes é autenticos Aviários, onde estão turmas de 20 e muitos miudos, num espaço muito curto, e onde o treinador, muitas vezes inexperiente não consegue fazer nada sequer perto do desejavel.

Estas turmas, são o ganha pão de muitos clubes, é importante olhar para elas numa perspectiva comercial, mas acima de tudo... é importante conseguir proporcionar um trabalho de qualidade. Só a qualidade vai permitir a evolução dos atletas para talvez entrarem nas equipas de competição, e só a qualidade vai incentivar a que mais jovens queiram aprender a jogar nesse clube.

Qualidade, Rigor, Avaliação, Competência, Divertimento, Ensino... tudo palavras chave quando se pensa em Escolas de Futebol.

Unknown disse...

Olá Ricardo, concordo contigo plenamente, assim como, com o comentário do Bruno.
Eu por acaso até estou com uma dessas aulas como vçs dizem. Encontro-me a trabalhar em juvenis mas em paralelo trabalho na formacão com crianças dos 5 aos 10 anos, (sozinho).
Preocupo-me principalmente em brincar ao futebol, com vários jogos onde eles sem dar conta estão a aprender a dominar a passar a driblar, velocidade de reacção, etc...acabando por se divertirem imenso.
Tenho neste momento 15 crianças a trabalhar comigo num espaço que me é dado de 50m x 15m, isto 2 vezes por semana, tendo ao sábado sempre meio campo. Mas o problema para mim não está no espaço reduzido naqueles 2 dias por semana, mas sim, na diferença de idades estando eu sozinho, já que é bastante dificil arranjar alguem com qualidade que queira trabalhar na formação.
As crianças, temos obrigatóriamente que as ter lá, atendendo tratar-se de escola aberta, crianças que muitas vezes não têm vontade em brincar ao futebol, vão sim porque os pais as obrigam. Essas mesmas crianças prejudicam quem gosta de lá estar a aprender e acima de tudo quem gosta de ensinar que é o meu caso.

O " AVIÁRIO " como diz o Bruno não acontece onde trabalho, porque como disse são só 15 miúdos, mas posso-vos garantir que conheço imensos sitios assim.

A qualidade nos treinadores da formação realmente é muito duvidosa e como os clubes querem é alguem a tomar conta dos rapazes para que no fim do mês a conta seja paga, não se preocupam muito com isso.

É a realidade do nosso futebol de formação.

abraço

Anónimo disse...

Olá Pessoal,

A vossa opinião só vem reforçar a minha ideia relativamente a este tema.

Estou a frequentar o Mestrado em Gestão e Direcção Desportiva e como tese propuz-me a desenvolver um Projecto para a criacção de uma Escola de Futebol.

Existirá sempre, como alguém dizia, uma perspectiva comercial mas será fundamental e necessário juntar o aspecto qualitativo do ensino.

Peço-vos, porque são pessoas do terreno, conhecedoras da realidade e mais experientes do que eu...que me indiquem algumas dicas para o correcto funcionamento, em termos de qualidade do ensino a nível técnico, de uma escola de futebol.

Adorava ter o vosso feedback, creio que iria assimilar novos conceitos bastante interessantes.

Obrigado.

Abraço,

Helder Cabrita.

Dennis Bergkamp disse...

Boas Helder

A visão comercial não tem de estar separada da qualidade de ensino.

É um ciclo vicioso. Ao proporcionarmos uma qualidade de ensino elevada, vamos estar a criar condições para que mais pessoas queiram participar, logo... mais dinheiro a entrar. A longo prazo, equipas de competição fortes ( resultado da aprendizagem ), logo cria-se uma imagem cada vez melhor da escola/clube de futebol, e mais pessoas a entrar no projecto.

Pena que há poucos clubes a trabalhar assim. As equipas de competição custumam ter total prioridade em termos de horários em relação as turmas que "injectam dinheiro" nos clubes, o que faz com que o clube ande sempre no "faz de conta".

Não há projectos a médio/longo prazo, não há uma definição clara em termos de metodologia a utilizar, e consequentemente, não há critério nenhum na escolha de treinadores.

Cada ano é um ciclo novo e os clubes não evoluem.

Blogs como este são importantissimos para mostrar que há quem pense na formação, quem queira fazer da formação a sua vida, quem queira trabalhar com rigor e com qualidade.